A Associação das Escolas Médicas
da Europa promove anualmente um congresso que atrai médicos e também pedagogos,
veterinários, odontólogos, nutricionistas, etc, configurando-se como um dos
mais importantes eventos na área de educação em saúde. Resolvi participar pela
primeira vez após a aprovação de dois resumos de pesquisa para apresentação no
formato de pôster comentado. Com ousadia resolvi encarar dois desafios;
apresentar os pôsteres em inglês em um congresso internacional, e viajar pela
Europa sozinho enfrentando as dificuldades culturais, alimentares, de
transporte, etc. Depois de cumprida a missão da apresentação dos pôsteres, com
forte sotaque acentuado pelo nervosismo, pude observar atentamente a organização
do congresso e tirar algumas conclusões pessoais: o congresso é na verdade uma
grande feira para venda de produtos para o ensino virtual, e de cursos, métodos
de avaliação institucional ou de estudantes, consórcios, e plataformas virtuais
para acesso a periódicos e livros como o famoso UPTODATE. Como todo congresso
permite a aproximação de interesses, troca de experiências pelos corredores,
divulgação de instituições e currículos, acesso a informações para
pós-graduação. Más, tudo é oferecido com preço geralmente elevado, iniciando
pelo valor pago em libras esterlinas para a inscrição no evento, que permite o
acesso a poucas atividades, posto que muitas delas ocorrem simultaneamente e em
apenas dois dias. As estrelas da educação médica concorrem por um premio
outorgado pela academia sueca, a mesma que atribui o premio Nobel. Os discursos
são alinhados com os do Brasil, as preocupações são as mesmas: humanização da
formação (de forte teor mecanicista); ênfase na atenção primária; eficácia dos
métodos de avaliação do estudante; virtualização crescente dos métodos de
ensino e avaliação. Nada diferente do Brasil, de fato, exceto pela intensa
comercialização de todos os produtos, artefatos, e métodos, e glorificação dos
currículos e instituições, coerentes com a mesma lógica combatida na formação
orientada para as especialidades médicas. E também o fato de que experimentamos
e ousamos em áreas distintas, em que muitos deles não têm experiência ou
interesse, más que nos trazem soluções. Em meio ao burburinho, é possível
identificar colegas do Brasil, em geral comprometidos com a educação médica,
participando ativamente do que lhes é possível, inclusive da mal disfarçada ou
assumida competição por postos chaves por aqui, identificada por uma postura
ansiosa e comentários maldosos, com nome e endereço. Não fazer parte destes
grupelhos me permitiu observar e ouvir sem perturbar o equilíbrio desta
categoria de desequilíbrio. Nada diferente também do comportamento competitivo
dos satanizados especialistas. Nada mais humano também, desde que os grupos
conscientizem-se dessa competição velada. Nessa miscelânea de corporativismos e
financeirização da educação médica, organizada pelos países de economia mais
forte que a nossa, a lição que devemos considerar é a da distinção cultural,
histórica e econômica, para que não fiquemos parecidos com macacos de circo que
mimetizam gestos humanos e depois aplaudem a si mesmos sem entender exatamente
por que. Resta-nos ainda o consolo de uma viagem ampliada de férias para apreciar
na cultura e no comportamento o que os distingue de nós.
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
domingo, 2 de junho de 2013
EDUCAR PARA PENSAR OU PARA ADAPTAR?
O que aproxima os grupos humanos
aproxima também os acadêmicos? E quando os acadêmicos são médicos como
aproximá-los para que cumpram a própria missão institucional? Em tempos de
globalização todas as fronteiras culturais tem sido postas à prova sem excluir
dessas misturas as religiões que se recriam em locais e culturas diferentes das
originais. O que não se deve esquecer em nenhum momento é que as mudanças não
são tão espontâneas assim, resultando muito mais de políticas traçadas pelo
poder econômico dominante do qual as religiões nunca deixaram de ser um braço
forte de apoio.
Não somos iguais a ponto de
adorarmos o mesmo deus da mesma maneira. Negamos também o mesmo deus de
maneiras diversas. Uso o exemplo da religião para marcar com evidencia que não
somos iguais por natureza ou por cultura e que somos determinados pelos meios
de produção e a força política aliada ao poder econômico, no Brasil quase
coincidentes em sua totalidade. Se nem a religião nos une a ponto de evitar
guerras, desperdícios humanos, poluição do ar, rios e mares, devastação
florestal, menos ainda os demais artifícios culturais como a educação, a
cultura, etc.
Somos todos especialistas em
alguma coisa, e a cada dia surgem novas profissões ou subespecialidades para
dar conta dos estragos da organização social egoísta e movida prioritariamente
pelo acúmulo e (in)diferença, acrescidos de uma pitada forte de autoritarismo
próprio aos regimes tropicais onde a economia e os poderes politico e religioso
andam de mãos dadas desde a fundação quando Colombo e Cabral aportaram por
aqui.
A partir do momento em que os
novos tecnocratas da educação do governo do PT descobriram que para resolver os
problemas de saúde do Brasil será preciso aumentar a quantidade de médicos criando
um exército de reserva suficiente para rebaixar salários e explodir com
garantias trabalhistas, as instituições responsáveis pela defesa dos interesses
dos médicos foram logo taxadas de intransigentes, xenófobas, atrasadas, etc.
De médico, louco e técnico de
futebol todo brasileiro tem um pouco. Mas na guerra entre o governo e as
instituições de defesa da medicina a população tem se mantido como se em uma trincheira aguardando a guerra
acabar para que seu sofrimento diminua e a vida retorne às preocupações
mínimas, como o preço do pão.
Enquanto isso nas universidades
também não conseguimos consensos sobre o perfil do egresso que o Brasil precisa,
e continuamos divididos em departamentos, eixos, disciplinas, módulos, todos
territórios de poder representativos da diversidade humana que nem a religião,
nem a educação conseguem integrar ou evitar. E somente em raros momentos o discurso lúcido
vem à tona para superar as posições egoístas de fé em apoio ou contrárias ao
governo federal.
Distantes das preocupações
mundanas da maioria da população, enredada na insegurança de uma vida sem
direitos e sem qualidade, tecnocratas e educadores, precisam admitir que tudo
gira em torno do trabalho, e nesse aspecto o CFM e demais entidades defensoras
dos direitos da categoria médica têm razão: PLANO DE CARREIRA JÁ, ESTRUTURA E
SEGURANÇA NO TRABALHO, REVALIDA SIM, ÉTICA E QUALIDADE NA FORMAÇÃO JÁ.
Não podemos abdicar de nossa
posição de educadores políticos, para com autonomia afirmar que a saúde da
população não pode ser confundida com quantitativo de médicos, enquanto a
desigualdade econômica é dissimulada pelo assistencialismo eleitoral, e a
insegurança, o saneamento, o analfabetismo, a indústria da seca, a indústria da
droga, e outras formas de egoísmo campeiam.
Cabe finalmente perguntar:
estamos formando médicos para criticar o modelo anterior de formação ou para
criticar as politicas de governo que direcionam os modelos de formação e o
mundo do trabalho e, por conseguinte, suas vidas?
[
segunda-feira, 29 de abril de 2013
SOBRE A INTEGRAÇÃO E O SISTEMA MODULAR
O currículo da FAMED/UFAL foi desenhado e posto em ação em 2006 como sistema modular para avançar sobre o modelo anterior, disciplinar, fragmentado, e com isso favorecer juntamente a outras estratégias, a visada INTEGRAÇÃO curricular. Desde então as dificuldades para planejar em conjunto o cotidiano pedagógico tem se sobreposto aos raros e valorizados momentos integradores. A costura de módulos com dois, três e até sete setores de ensino mais lembra uma colcha de retalhos que um tecido íntegro, contínuo e saudável. O reflexo dessa costura feita de remendos possíveis para o momento inicial da reforma, e que perdura até hoje, se reflete no descontentamento geral, em virtude da convivência forçada de setores que não se integram para planejar as vivências práticas e teóricas, e vivenciar o planejamento da avaliação integrada tornou-se uma tarefa desgastante, sofrida, e sabotada por todos. As raras experiências de integração como a vivida na semiologia atestam a possibilidade e o prazer da convivência saudável na construção do novo na educação médica. Parabéns aos novos docentes, comprometidos e integrados!
A principal lamentação docente, e que encontra eco entre os discentes, ecoa entre as paredes e ouvidos quando nos reunimos em qualquer instância colegiada para refletir sobre o desenvolvimento curricular: a atual forma de avaliação não motiva a aprendizagem discente, bastando estudar para apenas um dos setores de ensino para ser aprovado. Com isso todos se queixam, pois os interesses e identificações discentes para valorizar um determinado setor e negligenciar outro são diversos, atingindo todos os setores de ensino ainda que em momentos diferentes e com a desigualdade natural refletida por variáveis que os docentes não admitem por em questão. Admitir maior compromisso por alguns, o planejamento de uma avaliação com métodos diferenciados que não apenas a prova teórica por outros, incluir o feedback para aprender com os discentes como avaliar melhor por todos, são algumas das variáveis a se considerar para evitarmos retrocesso ao modelo anterior, territorial e autoritário. Sem esquecer que será preciso considerar estudos que identifiquem quais os setores de ensino mais valorizados e os mais negligenciados, pois é possível que tudo não passe de reflexo do mercado que impõe interesses para muito além de nosso idealismo. O mesmo mercado que também nos moldou e impede a construção de desenhos curriculares que se traduzam em redes de relações mais saudáveis e solidárias percebidas e admiradas pelos discentes. Maior motivação para a aprendizagem não há que o respeito e a solidariedade que reconhece as diferenças e apoia o desenvolvimento individual.
domingo, 24 de março de 2013
RECEITA PARA VENDER SAÚDE NAS PRATELEIRAS DO COMÉRCIO NEOLIBERAL
O sucesso na venda de uma mercadoria
começa antes da sua comercialização direta nos supermercados da economia
neoliberal. Portanto, de inicio, contrate agências de marketing cujo nome
esteja associado a signos mesmerizantes como corações intensamente vermelhos e
pulsantes, muita prata e dourado nas avenidas, e crianças, pais e avós em
harmonia, projetados em imagens conjugadas a jingles e fragmentos de canções
populares. Prometa, esta ficção higienizada como futuro, ainda que tudo isso já
esteja associado a seus mais perversos concorrentes. Sua imagem, de
trabalhador, empresário, ou intelectual, estará protegida no imaginário popular
como o infatigável progressista e defensor dos direitos dos humildes e
desvalidos.
Agências de marketing não tem
ideologia, tem interesses mercadológicos, ao contrário de você. Você não vende
mercadorias, você vende satisfação e ilusões.
E nunca esqueça que o concorrente de
hoje será o amigo de amanhã que, nas câmaras e assembleias, definirá a tabela
de variação de preços, a margem de lucro, e a indicação de membros na cozinha
do poder. O que importa é que você tenha mais tempo para divulgar sua imagem
doce e eficaz na mídia digital, enquanto as bases, os quadros, os cabos, pouco
importando como sejam denominados aqueles que mais parecem mascates, vendem
esta ilusão por você nas periferias.
Antecipado o miraculoso produto,
higienizado, saneado, perfeito, é hora de compor a equipe da cozinha virtual.
Nomeie para chef um economista, ele saberá como poupar gastos excessivos, falar
uma linguagem cientifica que convence pelo aturdimento e pelo mesmo motivo de
sua eleição, a estultícia do eleitorado, vítima das mesmas sabotagens e
armadilhas preparadas para a educação modeladora de consumidores, inclusive ou
principalmente, do que você entende por saúde.
Estabeleça princípios ou passos para
a receita não azedar: redução de gastos implica em priorizar as tecnologias
leves, próprias da atenção primária, e repassar para os representantes do
capital privado tudo que for considerado de complexidade terciária e de alto
custo. Não se esqueça de repetir estes princípios até que sejam aceitos como a
cobertura doce do bolo, solado, por baixo. Afinal, você sabe que não importa o
nível de atenção, os gastos são vultosos e se equiparam. Só você sabe que o que
realmente importa é a transfusão de sangue financeiro para o capital privado,
seus atuais aliados. Os corações pulsam vermelhos, na mesma sintonia, como na
propaganda eleitoral.
A receita está iniciando. Agora
nomeie os auxiliares do chef, de preferência teóricos, vaidosos, ambiciosos, alguns
idealistas, em geral mal remunerados na academia ou nos serviços, sem ou com
pouca experiência prática, e técnicos, vaidosos, ambiciosos, e autoritários,
misture-os e aguarde que fermente, e borbulhem conflitos. Não se preocupe, você
conseguirá atingir um bom resultado: muitas políticas, e ações para serem
cumpridas. Quanto mais confusas, descontínuas e fragmentárias, melhor. Enquanto
estão ocupados em fazer valer ou cumprir, cada um, o único ingrediente que conhecem,
esquecem o principal que você guarda para financiar as receitas nobres, para
degustar o caviar e o Moet Chandon com seus novos amigos, os únicos, eficientes
e salvadores da incompetência da gestão pública na saúde.
Dê então o segundo passo na receita,
desqualifique os gestores da saúde pública, atribuindo-lhes a sua própria
incompetência e amoralidade. Não importa, a maioria crê que mesmo que você
entregue a gestão administrativa e financeira para grupos privados, eles serão
chamados a permanecer no poder. Voce já aprendeu que no mundo unidirecionado
pelo capitalismo neoliberal as pessoas se adaptam a qualquer situação, pois não
há ideologia. Você nem precisou pedir para que eles afirmassem isso, seus
auxiliares compreenderam que para sobreviver no poder seria necessário repetir
que a ideologia não existe. Nem mesmo a razão existe mais, o poder da técnica,
o produtivismo, o imediatismo, o utilitarismo a torna desnecessária. Alguns idealistas
abandonarão o iate que você construiu para se divertir. Tolos, a fila de
oportunistas e idealistas é superior aquela do SUS, que você tanto usou para
desqualificar em épocas passadas os amigos de hoje.
E haja com sutileza para que a massa
fique macia (ou mansa) e não azede, não reaja contra você. Para entregar os
hospitais universitários para os gananciosos que estão sempre ao seu redor
disputando fatias, faça com que a própria comunidade acadêmica tome a decisão
por você. Assim, se mais adiante o plano não der certo, você não comprometerá
seus planos de perpetuação no poder e de proteção dos direitos dos amigos de
caviar e champanhe. A comunidade universitária está feliz com seu plano de
expansão de vagas, ainda que de maneira degradada. Voce criou muitas vagas docentes,
criou cotas, e a maioria, jovens ou antigos, que contribuiu para sua eleição,
acreditou em você, está paralisada, a meio caminho, entre o ressentimento e a
falta de opção partidária-ideológica. Lembre-se, ideologia não mais existe. E
deixe que a própria classe média divulgue que os partidos menores, éticos, sua
principal base de crescimento pessoal e partidário, são revolucionários, somente
pelas armas, e não por projetos reais, democráticos e soberanos de construção
do país.
Para que a receita não demore,
elimine os processos licitatórios de compras de medicamentos, equipamentos,
serviços e produtos, em geral. Denúncias futuras de corrupção servirão para a
correção exemplar e divulgação da face ética de sua autoridade. Além do mais, você
poderá afirmar que foi a incompetente e subserviente comunidade universitária
que decidiu que a gestão financeira dos hospitais universitários fosse entregue
à ganância dos grupos privados.
Como dono do restaurante, você é um
gênio. Falta agora, contratar quem vai servir as fatias do bolo solado e azedo
com saborosa cobertura de chocolate. Voce precisa de maitres, garçons e
garçonetes, cumins, toda a equipe que distribui seus produtos, e que não
agregue custos. Primeiro, lembre-se que apesar da violência, a população cresce
a olhos vistos, você tem um exercito pronto a lhe servir e substituir os
ineficientes. Segundo, lembre-se de projetar a sua ineficiência e a de seus
atuais amigos, responsáveis pela rapinagem do tesouro público, em todos os
níveis hierárquicos criando uma rede de desqualificação do caráter do
trabalhador público. Divulgue que são preguiçosos, e de moral duvidosa. Depois,
contrate com vínculo precário, sem garantias trabalhistas, você está acima da
constituição. O resto é ideologia, não conta.
E conceda franquias da sua cozinha
para seus amigos políticos e empresários para a formação dos profissionais que
reduzirão os impactos dos efeitos tóxicos das fatias do seu bolo azedo. Más,
não se preocupe com a qualidade técnica, pois o povo ainda lhe agradecerá pela
fatia e pela presença do médico em sua casa, a cereja do bolo, não importando
se esta será ou não mais um agente tóxico em suas vidas.
Crie um exército de reserva de médicos,
depois reduza salários, garantias, e use-os para sua promoção na mídia, quando
esta denunciar a corrupção e a gestão ineficiente de seus amigos políticos e
empresários. Preencha os vazios sanitários, com este exército, sem consultar ou
respeitar a opinião das entidades de classe, defensora dos direitos da
categoria, e da formação médica com qualidade.
Aproveite o momento de lua de mel das
associações de defesa dos interesses médicos e de formação com suas vaidades e
disputas internas, com a razão técnica, com o gozo tecnoburocrático, teórico
acadêmico, e ponha o produto no mercado, envolto em papel prateado decorado com
corações vermelhos.
E não se esqueça de que todo discurso
contrário ao seu é ideológico, ultrapassado, portanto não é racional, e não
serve para você e o sistema. Nenhuma outra receita serve, pois o que interessa
para você é que saúde é ausência de doença, e presença de médicos.
Bom apetite, companheiros!
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
CARTA AO FÓRUM DE DIRETORES DE ESCOLAS MÉDICAS FEDERAIS- AINDA SOBRE O ENSINO E A EBSERH
Caros colegas,
Não poderei estar presente a este encontro de consolidação dos princípios fundamentais do Forum de Diretores de Escolas Federais de Medicina por motivos próprios à Unidade Acadêmica a qual administro neste momento. Ao tempo em que parabenizo o grupo pela reunião e desejo bom proveito das horas de trabalho conjunto, gostaria de contribuir mesmo que à distância com o grupo de trabalho sobre a EBSERH nos hospitais universitários com uma análise do processo de implantação, consequências, e propostas para a defesa do ensino nos HUs.
Ressalto: que a portaria que cria a empresa, assinada pela presidente, do 2º ao 17º artigo, fere a constituição federal, e por isso mesmo, existe protocolada no supremo tribunal federal uma ação direta de inconstitucionalidade aguardando parecer inicial do ministro Toffoli; não há tempo definido para julgamento e parecer, dependendo do jogo político de bastidores das forças opostas interessadas na questão;
que embora os salários sejam melhores que para o exercício da docência, o trabalho será precarizado na forma de contratação com vínculo CLT, cuja única garantia é a da instabilidade e de possibilidade de assédio, em função da exigência produtivista e dos onipresentes mecanismos de controle, já denunciada em outras instituições públicas que passaram pelo mesmo processo (correios, BB, etc);
que a desculpa desqualificadora do trabalhador público tem recaído principalmente e exageradamente sobre os gestores dos hospitais universitários, que de maneira estranha tem concordado com esta desqualificação, e mais estranho ainda é que serão convidados a permanecer nos mesmos cargos de direção, agora com mais 17.000,00 reais de bonificação para manter esta atitude esquizoide; se a qualidade do serviço público é questionável em alguns setores, isso se deve à herança da ditadura de favorecimento clientelista de familiares, amigos e cabos eleitorais com admissão sem concurso, prática ainda vigente no país e que retorna agora com esta cara de modernidade na gestão administrativa;
que a qualidade do ensino não será garantida pela empresa e sim pela defesa organizada dos docentes em suas unidades bem como por suas instituições sindicais e outras como o FORDEM. A ameaça ao ensino nos HUs ficou explícita em Maceió, na fala de dois convidados para defender a EBSERH, a reitora da UFMT e o secretário da ANDIFES, que afirmaram que a formação médica não depende do uso dos Hospitais Universitários, sendo suficiente a formação parcial para a atenção primária na rede SUS;
que a aprovação nos diferentes estados tem ocorrido de forma antidemocrática, truculenta, e interesseira, como ocorreu em Maceió e Natal, e que a desculpa de prazo de 31/12/2012 para a demissão dos funcionários que ocorreria no dia seguinte inviabilizando a assistência à população carente foi uma falácia, o que compromete a confiança nos atuais diretores dos HU que defendiam a empresa (ou seus novos cargos e bonificações) e gestores da empresa e reitores;
que a implantação da empresa tem ocorrido sem consulta aos diretores das unidades acadêmicas da saúde, inclusive da medicina, (ou é uma realidade de Maceió?) de modo sorrateiro.
Portanto, sugiro que a direção do FORDEM junto às demais instituições como a ABEM, Associações de docentes locais, busquem a negociação de:
contratos com a participação direta das unidades acadêmicas da saúde, garantindo a assistência 100% pública e gratuita à população em harmonia com a constituição e os princípios do SUS, e o ensino público sem restrições, a pesquisa vinculada aos interesses universitários;
cargos de chefia de serviços exclusivos aos docentes, garantindo a formação de experiência administrativa, a defesa do ensino e melhora nos vencimentos ( bonificação de 4.000,00 reais);
garantias para as direções das unidades de medicina fazerem parte do conselho gestor ou auditor do HU, se for possível do conselho local da EBSERH
Como última preocupação devemos considerar a criação de princípios de orientação para a eleição de reitores e diretores com perfil mais democrático e comprometidos com a defesa do ensino médico com a qualidade necessária para garantir assistência adequada em todos os níveis de atenção.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
SOBRE A QUALIDADE DOS EGRESSOS DA REFORMA CURRICULAR
Muito se tem falado ultimamente dos resultados obtidos pelos
egressos da ultima turma de formandos da FAMED/UFAL, em especial de alguns
alunos que foram aprovados para dar continuidade à formação especializada em
centros de excelência de São Paulo, em áreas de estudos consideradas também
excepcionais. Todos classificados em primeiro ou segundo lugar para
especializar-se em cardiologia, neurologia clinica, neurocirurgia, neuroimagem,
oncocirurgia no Hospital Dante Pazanezzi, UNIFESP, USP, SUS-São Paulo, UNICAMP.
Outros, com aprovação em áreas como pediatria, ginecologia, clinica médica são
apontados também como sucesso, em escolas como a de Ribeirão Preto, IMIP em
Recife, Salvador. Semanalmente vamos tomando conhecimento da aprovação da
maioria em ambientes universitários ou de serviços vinculados ao SUS, do
centro-sul ou do nordeste, geralmente em áreas de especialidades para atenção
em saúde de complexidade terciária. Menos de 10% de cada turma opta pela
entrada definitiva no trabalho médico assalariado em cidades do interior,
adiando a especialização para alguns anos após alguma estabilidade financeira,
poucos, jamais cumprirão programas de residência médica, más com chances
elevadas de se tornarem prefeitos e ricos cedo.
Até aí nenhuma novidade. Nossos egressos sempre optaram em
maioria pela especialização, e quando não conseguiam a aprovação nos centros de
formação de excelência, no inicio, perseguiam o sonho em sucessivos testes até
prosseguir e finalizar a ultra-especialização nestes centros.
Os primeiros lugares em centros de formação de excelência da
turma mais recente de egressos revelam mais que a novidade e o espanto que
alguns colegas docentes e discentes esboçam: filhos de médicos, oriundos de
linhagens médicas de sucesso, ou de docentes universitários, portanto bem
criados, com as oportunidades da educação privada, urbana, aprimorada em todas
as etapas da vida, novidade e espanto seria não serem aprovados; a força do
mercado de saúde de alta complexidade se impõe ao modelo de formação orientada
para a atenção comunitária de complexidade primária e secundária, ainda que esta
ofereça, no momento, oportunidades salariais razoáveis, más com estrutura e
vínculo precários; a especialização prolongada em subespecializações, e para
alguns mestrado e doutorado, os manterá distante não apenas de Alagoas e do
Nordeste, más também da atenção comunitária.
Resta-nos o consolo de que estamos oferecendo uma boa
educação médica, já revelada no índice máximo obtido no ENADE. Só! E não é
pouco, nem muito. É nossa obrigação.
Enquanto isso, estudos sobre o desempenho dos egressos
cotistas e daqueles não cotistas de origem menos privilegiada fazem-se
necessários.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
MENSAGEM AOS FORMANDOS 2012.2
O cumprimento da jornada aconteceu com dedicação e compromisso não apenas com a própria formação, más também com compreensão e contribuição significativa de cada um para com o projeto de mudança e reorientação na formação médica iniciada em 2006.
As críticas e as atitudes ousadas foram importantes e necessárias, tanto quanto a recepção à proposta de educar para a comunidade. E creio que com vocês aprendemos que o ato de educar é realizado não somente em mão dupla, más de mãos dadas, com o carinho e o respeito próprio dos amigos, de quem confia e reconhece no outro a abertura para caminhar e crescer juntos.
Presenciamos e apoiamos nos momentos necessários, como fazem os pais e educadores, o compromisso com o desenvolvimento político e cidadão, com iniciativas próprias de gestão democrática do centro acadêmico, a aproximação com o sindicato dos médicos, a conquista da Diretoria Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina, criação das primeiras ligas acadêmicas, a defesa do Hospital Universitário, o apoio à greve docente, e a defesa inconteste da proposta curricular que alicerça e fundamenta os caminhos da formação médica na UFAL.
Estas características políticas os ajudarão no desafio permanente imposto pelas elites econômicas e seus representantes políticos de mascarar a dura realidade social com a agressão midiática à categoria e ao patrimônio público do qual o SUS é o mais visado por representar por um lado a memoria viva das lutas da reforma sanitária que são as mesmas da redemocratização e da elaboração da constituição de 1988, e por outro lado uma mina de ouro para o capital financeiro nacional e internacional. Outros desafios são impostos como a tentativa de preencher vazios sanitários com quantitativo de médicos mal formados em escolas públicas e privadas criadas sem hospital escola, sem docentes qualificados, sem estrutura e qualificação suficiente da rede SUS, ou importados de escolas bolivianas sem a mínima qualificação para o exercício da medicina.
Muitas lutas vos esperam más poucas turmas demonstraram o preparo político para enfrenta-las com maturidade como vocês têm demonstrado até agora.
Boas notícias também vos aguardam, como o reconhecimento de novas áreas de atuação como a recém-criada toxicologia humana, a união cada vez mais forte da categoria e suas instituições, o retorno do CFM, Federação Nacional dos Médicos e AMB ao Conselho Nacional de Saúde, e o avanço nas câmaras do senado do projeto de lei que regulamenta o exercício da medicina no país.
Assim é a vida, desafiadora, limitante, impulsionadora. Assim somos nós, frágeis diante dos desafios quando sozinhos, más invencíveis e imperturbáveis perante a necessidade de justiça, equidade, ética e garantia dos direitos humanos fundamentais, dentre os quais se incluem a saúde e uma formação adequada para garantir esse direito anterior.
Esta deve ser a função da Universidade: traduzir os desafios da vida em cidadania, possibilitando o pleno desenvolvimento da ação política para a transformação social, para a ampliação dos direitos humanos fundamentais.
Há frases que gostaríamos de ter sido os autores. Afirma o psicanalista Rollo May “Ser membro de uma comunidade é partilhar de seus mitos...” “Os mitos dão sentido a nossa existência e ... fortalecem os valores morais”.
Cumprir os rituais educacionais confere sentido aos esforços empreendidos pelos pais, pelas instituições e pelos indivíduos em formação, com o significado da aceitação e permissão à participação como membro da sociedade, como adulto autônomo e como profissional de uma categoria.
Voces fizeram o juramento invocando os mitos de Asclépio, Higéia e Panacéia, ativando uma memória universal e atemporal associada ao dom e a arte sensível de cuidar e curar.
Quando Ulisses partiu para a guerra de Tróia confiou a educação guerreira de seu filho Telêmaco a Mentor, missão cumprida até o seu retorno. Nesta jornada fomos nós, docentes da FAMED, mais do que educadores, mentores, com a missão impossível de educar para a vida, com a segurança do dever cumprido, com a certeza de termos feito o melhor possível, sem torná-los cópias inacabadas ou ciborgues de nossas competências individuais acumuladas.
A nossa garantia é a de que possibilitamos o desenvolvimento de potencialidades para o sucesso pessoal e profissional indissociada da ação cidadã: médicos competentes, críticos, reflexivos, flexíveis, com capacidade para liderar e o agir comunicativo, conforme preconizam as diretrizes curriculares nacionais, e mais do que isso, singulares, ousados empáticos e amorosos.
Agradecemos aos pais, e aos vossos valorosos e queridos filhos a escolha da FAMED, a confiança em nós nesta jornada real e mítica de desenvolvimento pessoal.
Médicos da turma Professor Luis Ferreira de Sousa desejo-vos sucesso, saúde, força, e mares serenos para a travessia das novas etapas de suas vidas.
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