terça-feira, 27 de março de 2012

NADA EXISTE EM CARÁTER PERMANENTE, A NÃO SER A MUDANÇA
Heráclito

A educação médica como é pensada e praticada hoje contempla todas as possibilidades: que as contribuições advenham de todas as direções, atores, momentos, cenários, estratégias, conhecimentos, conflitos, adversidades, e da pesquisa em que o objeto seja a educação médica em si. A riqueza de informações, a troca intensa e permanente de experiências sobre a educação médica, em todo o mundo, faz do momento atual um marco singular na história da formação de médicos para o mercado da saúde. Vivemos em uma época em que o mercado liberal de trabalho médico se retrai e é substituído pelo trabalho assalariado, em que o Estado tenta recuperar espaço e assegurar uma politica de fixação de médicos com um perfil bem definido, de médicos clínicos com especial atenção à saúde da família. Algo parecido acontece com as demais profissões em saúde, cada uma com sua própria história de educação em saúde, porém bem atrás do movimento de mudança observado na medicina. No entanto, o crescimento das profissões em saúde tem impulsionado um movimento irregular de disputa de espaço e poder, que de maneira inesperada tem alimentado discussões e mudanças na educação médica em direção a um equilíbrio futuro nas relações de trabalho. No entanto, o que acontece na sociedade, palco dessas disputas, não se reflete necessariamente com a mesma configuração nas universidades. Nos conselhos regionais e sindicatos, a distância entre as lideranças tem aumentado, com a desculpa de definição de atos e características a cada profissão, enquanto na universidade busca-se o diálogo, e conceitos como multi, inter e transdiciplinaridades são postos em ação, educando os futuros profissionais para a nova divisão do trabalho, em especial o trabalho no SUS. Em Alagoas, o curso de medicina apresenta uma politica própria e inclusiva de educação permanente para qualificação docente, de uma política própria de desenvolvimento curricular e revisão continuada de práticas e critérios para uma formação mais harmônica com as demandas públicas regionais, com a epidemiologia local, com a superação de interesses e prioridades excludentes e privatizantes da saúde. Hoje, seis anos após a reforma curricular, e concluída formação da primeira turma com este perfil, lideranças do curso percebem dificuldades e tentam em conjunto apontar soluções, e avançar em direção a um perfil mais adequado às políticas públicas que acionam o trabalho em saúde no momento atual. A integração buscada desde o primeiro momento da reforma curricular há seis anos ainda se constitui um dos principais desafios. Desfeitos os departamentos, ditos especializantes, seus fantasmas persistem na nova organização em eixos mais paralelos que integrados, e que dividem a formação em medicinas distintas, “individual e biológica” e “comunitária, do PSF”, mantendo e reproduzindo visões e práticas antigas de exercício de poder que refletem a visão de trabalho médico ainda vigente na sociedade. Conflitos, avanços e recuos, medos e resistências, soluções criativas e específicas a nossas necessidades, estão presentes em nosso cotidiano. Amizades são ameaçadas, o frágil equilíbrio da saúde individual e grupal é ameaçado, a integração alcançada é, por vezes, ameaçada. O desafio é permanente, não somos mais apenas médicos formando médicos, somos docentes médicos responsáveis pela formação de médicos com qualidade suficiente para qualificar sua própria vida e a vida dos outros. Somos responsáveis por uma ação docente para uma formação decente; por uma formação decente para uma vida e trabalho prudentes.  A partir de hoje, este blog nos permitirá refletir, descrever e trocar ideias sobre o cotidiano de um grupo que se permite criar e propor soluções aos desafios que a formação médica impõe. E que o provincianismo e os interesses políticos –acadêmicos locais, aliados de carreirismos e oportunismos vigentes, não nos atrapalhe!