domingo, 2 de junho de 2013

EDUCAR PARA PENSAR OU PARA ADAPTAR?


O que aproxima os grupos humanos aproxima também os acadêmicos? E quando os acadêmicos são médicos como aproximá-los para que cumpram a própria missão institucional? Em tempos de globalização todas as fronteiras culturais tem sido postas à prova sem excluir dessas misturas as religiões que se recriam em locais e culturas diferentes das originais. O que não se deve esquecer em nenhum momento é que as mudanças não são tão espontâneas assim, resultando muito mais de políticas traçadas pelo poder econômico dominante do qual as religiões nunca deixaram de ser um braço forte de apoio.

Não somos iguais a ponto de adorarmos o mesmo deus da mesma maneira. Negamos também o mesmo deus de maneiras diversas. Uso o exemplo da religião para marcar com evidencia que não somos iguais por natureza ou por cultura e que somos determinados pelos meios de produção e a força política aliada ao poder econômico, no Brasil quase coincidentes em sua totalidade. Se nem a religião nos une a ponto de evitar guerras, desperdícios humanos, poluição do ar, rios e mares, devastação florestal, menos ainda os demais artifícios culturais como a educação, a cultura, etc.

Somos todos especialistas em alguma coisa, e a cada dia surgem novas profissões ou subespecialidades para dar conta dos estragos da organização social egoísta e movida prioritariamente pelo acúmulo e (in)diferença, acrescidos de uma pitada forte de autoritarismo próprio aos regimes tropicais onde a economia e os poderes politico e religioso andam de mãos dadas desde a fundação quando Colombo e Cabral aportaram por aqui.

A partir do momento em que os novos tecnocratas da educação do governo do PT descobriram que para resolver os problemas de saúde do Brasil será preciso aumentar a quantidade de médicos criando um exército de reserva suficiente para rebaixar salários e explodir com garantias trabalhistas, as instituições responsáveis pela defesa dos interesses dos médicos foram logo taxadas de intransigentes, xenófobas, atrasadas, etc.

De médico, louco e técnico de futebol todo brasileiro tem um pouco. Mas na guerra entre o governo e as instituições de defesa da medicina a população tem se mantido  como se em uma trincheira aguardando a guerra acabar para que seu sofrimento diminua e a vida retorne às preocupações mínimas, como o preço do pão.

Enquanto isso nas universidades também não conseguimos consensos sobre o perfil do egresso que o Brasil precisa, e continuamos divididos em departamentos, eixos, disciplinas, módulos, todos territórios de poder representativos da diversidade humana que nem a religião, nem a educação conseguem integrar ou evitar.  E somente em raros momentos o discurso lúcido vem à tona para superar as posições egoístas de fé em apoio ou contrárias ao governo federal.

Distantes das preocupações mundanas da maioria da população, enredada na insegurança de uma vida sem direitos e sem qualidade, tecnocratas e educadores, precisam admitir que tudo gira em torno do trabalho, e nesse aspecto o CFM e demais entidades defensoras dos direitos da categoria médica têm razão: PLANO DE CARREIRA JÁ, ESTRUTURA E SEGURANÇA NO TRABALHO, REVALIDA SIM, ÉTICA E QUALIDADE NA FORMAÇÃO JÁ.

Não podemos abdicar de nossa posição de educadores políticos, para com autonomia afirmar que a saúde da população não pode ser confundida com quantitativo de médicos, enquanto a desigualdade econômica é dissimulada pelo assistencialismo eleitoral, e a insegurança, o saneamento, o analfabetismo, a indústria da seca, a indústria da droga, e outras formas de egoísmo campeiam.

Cabe finalmente perguntar: estamos formando médicos para criticar o modelo anterior de formação ou para criticar as politicas de governo que direcionam os modelos de formação e o mundo do trabalho e, por conseguinte, suas vidas?

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