O que aproxima os grupos humanos
aproxima também os acadêmicos? E quando os acadêmicos são médicos como
aproximá-los para que cumpram a própria missão institucional? Em tempos de
globalização todas as fronteiras culturais tem sido postas à prova sem excluir
dessas misturas as religiões que se recriam em locais e culturas diferentes das
originais. O que não se deve esquecer em nenhum momento é que as mudanças não
são tão espontâneas assim, resultando muito mais de políticas traçadas pelo
poder econômico dominante do qual as religiões nunca deixaram de ser um braço
forte de apoio.
Não somos iguais a ponto de
adorarmos o mesmo deus da mesma maneira. Negamos também o mesmo deus de
maneiras diversas. Uso o exemplo da religião para marcar com evidencia que não
somos iguais por natureza ou por cultura e que somos determinados pelos meios
de produção e a força política aliada ao poder econômico, no Brasil quase
coincidentes em sua totalidade. Se nem a religião nos une a ponto de evitar
guerras, desperdícios humanos, poluição do ar, rios e mares, devastação
florestal, menos ainda os demais artifícios culturais como a educação, a
cultura, etc.
Somos todos especialistas em
alguma coisa, e a cada dia surgem novas profissões ou subespecialidades para
dar conta dos estragos da organização social egoísta e movida prioritariamente
pelo acúmulo e (in)diferença, acrescidos de uma pitada forte de autoritarismo
próprio aos regimes tropicais onde a economia e os poderes politico e religioso
andam de mãos dadas desde a fundação quando Colombo e Cabral aportaram por
aqui.
A partir do momento em que os
novos tecnocratas da educação do governo do PT descobriram que para resolver os
problemas de saúde do Brasil será preciso aumentar a quantidade de médicos criando
um exército de reserva suficiente para rebaixar salários e explodir com
garantias trabalhistas, as instituições responsáveis pela defesa dos interesses
dos médicos foram logo taxadas de intransigentes, xenófobas, atrasadas, etc.
De médico, louco e técnico de
futebol todo brasileiro tem um pouco. Mas na guerra entre o governo e as
instituições de defesa da medicina a população tem se mantido como se em uma trincheira aguardando a guerra
acabar para que seu sofrimento diminua e a vida retorne às preocupações
mínimas, como o preço do pão.
Enquanto isso nas universidades
também não conseguimos consensos sobre o perfil do egresso que o Brasil precisa,
e continuamos divididos em departamentos, eixos, disciplinas, módulos, todos
territórios de poder representativos da diversidade humana que nem a religião,
nem a educação conseguem integrar ou evitar. E somente em raros momentos o discurso lúcido
vem à tona para superar as posições egoístas de fé em apoio ou contrárias ao
governo federal.
Distantes das preocupações
mundanas da maioria da população, enredada na insegurança de uma vida sem
direitos e sem qualidade, tecnocratas e educadores, precisam admitir que tudo
gira em torno do trabalho, e nesse aspecto o CFM e demais entidades defensoras
dos direitos da categoria médica têm razão: PLANO DE CARREIRA JÁ, ESTRUTURA E
SEGURANÇA NO TRABALHO, REVALIDA SIM, ÉTICA E QUALIDADE NA FORMAÇÃO JÁ.
Não podemos abdicar de nossa
posição de educadores políticos, para com autonomia afirmar que a saúde da
população não pode ser confundida com quantitativo de médicos, enquanto a
desigualdade econômica é dissimulada pelo assistencialismo eleitoral, e a
insegurança, o saneamento, o analfabetismo, a indústria da seca, a indústria da
droga, e outras formas de egoísmo campeiam.
Cabe finalmente perguntar:
estamos formando médicos para criticar o modelo anterior de formação ou para
criticar as politicas de governo que direcionam os modelos de formação e o
mundo do trabalho e, por conseguinte, suas vidas?
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