Estamos reunidos para conferir o grau de bacharel em medicina
e homenagear os novos médicos egressos do curso de medicina da UFAL com a nossa
presença, nossas palavras, nossos afetos e nosso respeito.
Nesse instante, pousamos nossos olhares mais afetuosos,
nossas mãos mais suaves, os abraçamos no movimento último de aproximá-los ao
peito para guardar um pouco do perfume e da doçura de cada um. E com a
segurança de educadores cônscios de nossa missão e do trabalho bem feito,
possamos num firme impulso lança-los para a vida autônoma, profissional,
adulta, responsável, para que voem alto no limite dos seus próprios desejos.
Para o voo alto e seguro, aprendam desde já a desvencilhar-se
do peso do passado, de alguma desavença, dos conflitos inerentes à condição
humana e necessários ao desenvolvimento do caráter, para que a família ampliada
e constituída durante seis anos de convivência diária, permaneça alimentada com
a lembrança do melhor de cada um. Que
toda experiência, tudo que foi vivido junto, seja o combustível da nova etapa
que iniciará tão logo estejam habilitados legalmente para o exercício ético da
medicina.
Em tempos de embrutecimento do cotidiano, com as marcas do cinismo,
do egoísmo e indiferença, do consumismo vazio, da corrupção, em que a desconfiança
e o medo governam nossos modos de relações, temos a obrigação de contribuir
para o restabelecimento dos laços sociais, intra e interfamiliares admitindo as
novas reconfigurações, os comunitários, e os laços interprofissionais, e entre
os povos e nações.
Este legado embrutecido
das gerações anteriores, também deve ser deixado para trás, e com o poder da
juventude, com a força do sonho, resistir à barbárie da política brasileira e
da financeirização da vida, mantendo em movimento a roda da utopia.
Acreditem, o novo sempre vence!
E o sonho de vocês, apenas iniciou em sua aparência de
realidade. Muito há ainda por conquistar, por construir juntos, por
compartilhar, por responsabilizar-se.
Precisamos mudar nossas práticas e discursos: sem abandonar a
compaixão precisamos criar e priorizar práticas solidárias, sem negar o
presente, responsabilizarmo-nos pelo futuro, pelo meio ambiente, pelos povos e
agrupamentos humanos em situação de vulnerabilidade.
A tecnologia aliada à ciência oferecerá a vocês,
profissionais do futuro, artefatos cada vez mais sofisticados para o
prolongamento da vida, transformação do corpo, para a seleção e a modificação
do que hoje chamamos de vida humana, para o alivio de males que nos aflige há
séculos, no entanto, a fronteira com a eugenia, com a manipulação de células,
tecidos, embriões para fins mercadológicos, e de controle populacional, impõe
que priorizem e continuem o desenvolvimento individual e profissional de
competências éticas. A dignidade humana nos posiciona sempre como fins e nunca
como meios.
A vaidade, a ambição, estarão à espreita, sutilmente, testando
a ética e a imaturidade profissional, em ambientes de forte pressão
mercadológica e política. E a adesão fácil às tendências, ao conformismo, ao
oportunismo, poderá vir a ser uma carga que impedirá voos de realização de
sonhos individuais com compromisso social, e fortalecerá as teias que nos
aprisionam na cadeia do individualismo, e da falsa segurança.
A tomada de decisão deverá ser pautada em balizas éticas
apoiadas nos direitos humanos, no plano individual e social, na clínica e na
pesquisa com humanos e animais, na relação com os colegas e com toda a equipe
de trabalho, na consideração da alocação de recursos na saúde para os mais
vulneráveis, e na responsabilidade com as futuras gerações, como missão de
nossos atos presentes.
Não esperem a vida melhor como dádiva, esta já lhes foi dada.
E garanto, é bem melhor que a vida de dois terços da população brasileira. Agora,
é trabalhar juntos para que esta dádiva seja o presente de vocês profissionais
da saúde, médicos do corpo e da alma, para toda a humanidade, na forma de
cuidados éticos. Ainda que a humanidade esteja contida nas fronteiras de um
indivíduo, uma clínica, um hospital, uma comunidade, ou toda uma nação.
Cada um de vocês é uma síntese da humanidade, e nisso reside
a dignidade humana, o direito de ser livre para escolher, opinar, e ser
respeitado independente da herança cultural, genética.
Cada um de nós encerra o patrimônio genético e cultural da
humanidade, com a diversidade e a expressão que faz a todos singulares. Portanto, devemos o respeito à autonomia
individual e cultural dos grupos na tomada de decisões sobre o início, a
continuidade, e o fim da vida.
Vivemos em uma sociedade secularizada, onde o Estado é laico,
e a aprendizagem sobre os direitos humanos é um desafio para exercício cotidiano
profissional e cidadão.
Portanto, os preconceitos que limitam a nossa prática
profissional são o terceiro peso a abandonarmos no caminho da construção de uma
ética profissional que considere o ser humano como fim.
Para nós, vocês são a geração do futuro, mas o futuro não
acaba em vocês. Preparem o melhor presente para o melhor ambiente futuro para
seus filhos, e os filhos de seus amigos, e os filhos de seus filhos e de todos
que dividirão convosco a passagem pela vida, nesta casa universal que a cada
dia se torna menor, e chamamos Terra, e a viagem lhes será sempre leve, serena.
Lembrem-se que a responsabilidade profissional de aliviar a
dor do outro implica também na responsabilidade cidadã da construção de um
mundo melhor para todos.
Deste modo, construirão um mundo melhor para vocês também.
Um abraço fraterno a todos.
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