terça-feira, 13 de janeiro de 2015

DISCURSO NO ATO DE COLAÇÃO DE GRAU DE BACHAREL EM MEDICINA - TURMA 2014.2


DIA: 18/12/2014
É com a satisfação do dever cumprido, que vos apresento para o trabalho social, para a autonomia profissional e pessoal, para a responsabilidade cidadã, para o cuidado ético e humanizado dos outros e de si, a turma de bacharéis em medicina 2014.2.
A Faculdade de Medicina sente-se orgulhosa deste dia, por termos conduzido e apoiado o desenvolvimento de competências técnicas profissionais e ético-humanitárias a este grupo de jovens idealistas.
Com a atenção vigilante e a mão amiga de docentes comprometidos com a responsabilidade técnica de formar médicos, acrescentamos também à formação valores e princípios que abrem caminhos para uma prática médica solidária.
Jovens no inicio da formação e ainda hoje, aprenderam principalmente que, na era da velocidade, do descartável, da hegemonia da técnica e da ciência sobre os valores espirituais, o trabalho em equipe, o respeito ao outro, o privilégio da escuta na comunicação, proporcionam respostas, que no contexto apropriado, são tão satisfatórias e complexas quanto qualquer exame de ressonância magnética em contextos hospitalares. E mais ainda, que nos complexos hospitalares é preciso saber dar a boa e a má noticia; que o cuidado é mais eficaz quando as ações profissionais autônomas organizam-se de maneira dialógica, em torno de um objetivo comum: a pessoa sob cuidado, suplantando a vaidade e a ambição, quando são regidas com a melodia suave da compreensão mútua interprofissional.
Conviveram e aprenderam com a dura realidade das comunidades pobres na periferia de Maceió, mal assistidas em seus direitos inalienáveis de viver com dignidade: moradia, saneamento, segurança, educação, saúde, lazer. Esta experiência deverá ter servido como alicerce à crítica social, para o desenvolvimento de valores solidários e compassivos, e para a ação política que enseje a redução da desigualdade social.
Esta foi a nossa missão, cumprida com rigor nos diferentes contextos: HGE, Hospital Portugal Ramalho, Hospital do açúcar, Maternidade N. Sra. Da Guia, Hospital Artur Ramos, Hospital Universitário, Unidades Básicas de Saúde do município de Maceió, Arapiraca, Penedo, Branquinha, São José da Lage, Marechal Deodoro. Diferentes contextos, cenários, complexidade de atenção, equipes, diferentes comunidades, usuários, com suas diferentes histórias de vida e de modos de sobreviver e adoecer. Lugares de convivência harmoniosa e solidária com docentes e preceptores, usuários e técnicos hoje aqui representados, e ao longo da semana homenageados, exemplos para lembrar por toda a vida.
O Curso de Graduação em Medicina da UFAL tem como perfil do formando, o médico com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, com competência para atuar, pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano.
Nosso maior desafio tem sido responder às críticas que dizem respeito à desumanização da medicina. Não fugimos à nossa responsabilidade de mudar e, desafiar aos demais setores da saúde, para olhar de frente também suas próprias práticas de cuidados, e desafiar também a sociedade que permanece acrítica diante de decisões ou da falta delas que afetam diretamente a qualidade do ambiente e da vida individual, familiar e comunitária. Não basta reformar currículos médicos, sem reformar os demais, não basta importar médicos sem oferecer estrutura que qualifique o cuidado, não basta abrir escolas médicas, sem a devida certificação da qualidade do ensino. Somos todos responsáveis por esta nação corrompida, usurpada, atingida gravemente nos princípios basilares da cidadania.  Não apenas os médicos, más todos os cidadãos devem participar da cura desta ferida aberta que corrompe todos os alicerces e ameaça a democracia.
Cumprimos a nossa parte, e hoje entregamos à sociedade médicos com competência e consciência crítica da realidade, capazes de escolhas entendendo que em suas trajetórias individuais, suas ações afetam e são afetadas pelas escolhas dos demais, que somos um todo complexo e indissociável, que é possível refazer o tecido social com o cultivo dos valores éticos comunitários e da espiritualidade necessária nos mínimos atos cotidianos, abandonando o antigo jeitinho brasileiro de levar vantagem em tudo.
Ou continuaremos no caminho da barbárie em que vemos o outro como inimigo e o meio ambiente como um imenso depósito do lixo de nosso egoísmo; aumentaremos nossos muros, grades de proteção, ampliaremos nossos mecanismos de vigilância, contrataremos cada vez mais exércitos de seguranças. E ainda assim veremos que nada disso nos afastará da insegurança e dos efeitos perversos da indiferença.
Senhores, senhoras, meus caros formandos, sabemos que a universidade é uma experiência curta, transitória, de forte influência no desenvolvimento do caráter, más não é a única, nem definitiva. A responsabilidade da formação e da consequência dos atos de cada um dos formandos desta turma e de qualquer outro formando neste país, é de cada um de nós, más a partir de hoje é principalmente deles.
Nós somos os resultados de nossas escolhas. Caros formandos vocês escolheram ser médicos, e nós os apoiamos durante seis longos e breves anos. Honrem a promessa hipocrática, defendam a democracia, a justiça, os direitos humanos, e sejam prósperos e felizes.
Muito obrigado aos familiares pela confiança, e a vocês pela aprendizagem mútua em todos estes anos de convivência.



                                    




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