domingo, 7 de dezembro de 2014

O TRABALHO SOLITÁRIO DA GESTÃO E A TEORIA MORAL DE KOHLBERG



                           Toda gestão é considerada como desafiadora, as relações humanas constituindo-se como seu principal desafio. Além disso, o trabalho solitário de responder das demandas dos níveis superiores hierárquicos, à burocracia, ao cumprimento de rituais, muitas vezes destituídos de outro sentido que não seja amargar horas a fio a companhia de outros colegas que mais parecem saídos de um almanaque antigo, e mais atualmente, ao cada vez mais imperioso e obrigatório apelo de colegas ou grupos articulados em defesa de algum interesse particular, ou de estudantes mimados e que não sabem mais reconhecer os limites e a vida como uma infinita teia de relações, afetos, interesses comuns, faz do trabalho na gestão de uma escola médica uma necessidade de aperfeiçoamento pessoal, no sentido ético e moral. Para responder a cada semideus com seus propósitos individuais, aos discursos egoístas mal dissimulados de altruísmos repentinos, às práticas cotidianas de burlar a responsabilidade de educar como tarefa civilizatória e não reprodutora apenas de valores de dominação e perpetuação de uma classe ou categoria sobre outra(s), até a mais simplória e inútil, pelo menos para mim, tentativa de ludibriar com promessas de planos de atividades, e atividades sem planos, desde que coerentes com o que pensam ser o que o gestor gostaria de ouvir, para ter seu plano individual de ação, geralmente egoísta, atendido sem restrições. O plano político-pedagógico e a missão da instituição são usados como a própria constituição brasileira, um símbolo necessário para dar corpo à unidade nacional, más um ente abstrato e mal interpretado em favor de interesses particulares, apresentados então como missão e planos individuais que não se enodam para dar conta a um corpo institucional integrado: projetos individuais que se somam mas não se articulam, não se tocam, não se interpenetram para constituir uma unidade, autônoma, composta por um projeto maior desenhado em sua missão e seu plano político-pedagógico que deve ser considerado e constituído como um plano ético. O plano ético, maior, poderá nos direcionar para responder aos interesses particulares, enodados, compartilhados, em comunhão. Planos dissociados, interesses particulares, induzem ainda à perpetuação de concepções limitadas, muitas vezes errôneas ou reflexos de interesses corporativos, de corpo e saúde, que se refletem em práticas docentes fragmentadas, em uma educação em que o exemplo moral do docente e a responsabilidade da instituição são percebidos pelos discentes como uma máscara necessária para adentrar no mundo adulto, do trabalho, com cinismo, dissimulação, e uma boa dose de indigência moral.
Kohlberg desenvolveu uma teoria da moral escalonando-a em estágios evolutivos que incorporam os anteriores até o estágio de transcendência em que a vida comunitária e a espiritualidade determinam os valores de uma ação moral, para que em comunhão, compartilhemos nossos conhecimentos, organizemos as nossas ações, de mãos dadas, como uma só voz, um só corpo, beneficiário e beneficiando de um projeto comum. Não é mais possível, acreditar apenas nas palavras e nas meias ações que encobrem os interesses particulares, egoístas, fontes de sofrimento pessoal e de efeitos morais públicos que desfazem tijolo a tijolo, o edifício dos ideais iluministas de civilização pela educação e pela ciência.
Por isso, o gestor deve ser comprometido com sua própria formação moral e ética, e responsabilizar-se diante da demanda individual, egoísta, oferecendo respostas, compatíveis com um nível acima do estágio moral apresentado: surpreender, abrir espaço à perplexidade, à reflexão, devolver como um presente a negação, e o espanto.  


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