Toda gestão é considerada como desafiadora, as
relações humanas constituindo-se como seu principal desafio. Além disso, o
trabalho solitário de responder das demandas dos níveis superiores
hierárquicos, à burocracia, ao cumprimento de rituais, muitas vezes destituídos
de outro sentido que não seja amargar horas a fio a companhia de outros colegas
que mais parecem saídos de um almanaque antigo, e mais atualmente, ao cada vez
mais imperioso e obrigatório apelo de colegas ou grupos articulados em defesa
de algum interesse particular, ou de estudantes mimados e que não sabem mais
reconhecer os limites e a vida como uma infinita teia de relações, afetos,
interesses comuns, faz do trabalho na gestão de uma escola médica uma
necessidade de aperfeiçoamento pessoal, no sentido ético e moral. Para
responder a cada semideus com seus propósitos individuais, aos discursos egoístas
mal dissimulados de altruísmos repentinos, às práticas cotidianas de burlar a
responsabilidade de educar como tarefa civilizatória e não reprodutora apenas
de valores de dominação e perpetuação de uma classe ou categoria sobre
outra(s), até a mais simplória e inútil, pelo menos para mim, tentativa de
ludibriar com promessas de planos de atividades, e atividades sem planos, desde
que coerentes com o que pensam ser o que o gestor gostaria de ouvir, para ter
seu plano individual de ação, geralmente egoísta, atendido sem restrições. O plano
político-pedagógico e a missão da instituição são usados como a própria
constituição brasileira, um símbolo necessário para dar corpo à unidade
nacional, más um ente abstrato e mal interpretado em favor de interesses
particulares, apresentados então como missão e planos individuais que não se
enodam para dar conta a um corpo institucional integrado: projetos individuais que
se somam mas não se articulam, não se tocam, não se interpenetram para
constituir uma unidade, autônoma, composta por um projeto maior desenhado em
sua missão e seu plano político-pedagógico que deve ser considerado e constituído
como um plano ético. O plano ético, maior, poderá nos direcionar para responder
aos interesses particulares, enodados, compartilhados, em comunhão. Planos dissociados,
interesses particulares, induzem ainda à perpetuação de concepções limitadas, muitas
vezes errôneas ou reflexos de interesses corporativos, de corpo e saúde, que se
refletem em práticas docentes fragmentadas, em uma educação em que o exemplo
moral do docente e a responsabilidade da instituição são percebidos pelos
discentes como uma máscara necessária para adentrar no mundo adulto, do
trabalho, com cinismo, dissimulação, e uma boa dose de indigência moral.
Kohlberg desenvolveu uma teoria da moral
escalonando-a em estágios evolutivos que incorporam os anteriores até o estágio
de transcendência em que a vida comunitária e a espiritualidade determinam os
valores de uma ação moral, para que em comunhão, compartilhemos nossos
conhecimentos, organizemos as nossas ações, de mãos dadas, como uma só voz, um
só corpo, beneficiário e beneficiando de um projeto comum. Não é mais possível,
acreditar apenas nas palavras e nas meias ações que encobrem os interesses
particulares, egoístas, fontes de sofrimento pessoal e de efeitos morais
públicos que desfazem tijolo a tijolo, o edifício dos ideais iluministas de
civilização pela educação e pela ciência.
Por isso, o gestor deve ser comprometido com sua
própria formação moral e ética, e responsabilizar-se diante da demanda
individual, egoísta, oferecendo respostas, compatíveis com um nível acima do
estágio moral apresentado: surpreender, abrir espaço à perplexidade, à reflexão,
devolver como um presente a negação, e o espanto.
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