segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Crônicas de uma Educação Médica: O CONGRESSO DA AMEE E A EDUCAÇÃO MÉDICA NO BRASIL
Crônicas de uma Educação Médica: O CONGRESSO DA AMEE E A EDUCAÇÃO MÉDICA NO BRASIL: A Associação das Escolas Médicas da Europa promove anualmente um congresso que atrai médicos e também pedagogos, veterinários, odontólogos,...
O CONGRESSO DA AMEE E A EDUCAÇÃO MÉDICA NO BRASIL
A Associação das Escolas Médicas
da Europa promove anualmente um congresso que atrai médicos e também pedagogos,
veterinários, odontólogos, nutricionistas, etc, configurando-se como um dos
mais importantes eventos na área de educação em saúde. Resolvi participar pela
primeira vez após a aprovação de dois resumos de pesquisa para apresentação no
formato de pôster comentado. Com ousadia resolvi encarar dois desafios;
apresentar os pôsteres em inglês em um congresso internacional, e viajar pela
Europa sozinho enfrentando as dificuldades culturais, alimentares, de
transporte, etc. Depois de cumprida a missão da apresentação dos pôsteres, com
forte sotaque acentuado pelo nervosismo, pude observar atentamente a organização
do congresso e tirar algumas conclusões pessoais: o congresso é na verdade uma
grande feira para venda de produtos para o ensino virtual, e de cursos, métodos
de avaliação institucional ou de estudantes, consórcios, e plataformas virtuais
para acesso a periódicos e livros como o famoso UPTODATE. Como todo congresso
permite a aproximação de interesses, troca de experiências pelos corredores,
divulgação de instituições e currículos, acesso a informações para
pós-graduação. Más, tudo é oferecido com preço geralmente elevado, iniciando
pelo valor pago em libras esterlinas para a inscrição no evento, que permite o
acesso a poucas atividades, posto que muitas delas ocorrem simultaneamente e em
apenas dois dias. As estrelas da educação médica concorrem por um premio
outorgado pela academia sueca, a mesma que atribui o premio Nobel. Os discursos
são alinhados com os do Brasil, as preocupações são as mesmas: humanização da
formação (de forte teor mecanicista); ênfase na atenção primária; eficácia dos
métodos de avaliação do estudante; virtualização crescente dos métodos de
ensino e avaliação. Nada diferente do Brasil, de fato, exceto pela intensa
comercialização de todos os produtos, artefatos, e métodos, e glorificação dos
currículos e instituições, coerentes com a mesma lógica combatida na formação
orientada para as especialidades médicas. E também o fato de que experimentamos
e ousamos em áreas distintas, em que muitos deles não têm experiência ou
interesse, más que nos trazem soluções. Em meio ao burburinho, é possível
identificar colegas do Brasil, em geral comprometidos com a educação médica,
participando ativamente do que lhes é possível, inclusive da mal disfarçada ou
assumida competição por postos chaves por aqui, identificada por uma postura
ansiosa e comentários maldosos, com nome e endereço. Não fazer parte destes
grupelhos me permitiu observar e ouvir sem perturbar o equilíbrio desta
categoria de desequilíbrio. Nada diferente também do comportamento competitivo
dos satanizados especialistas. Nada mais humano também, desde que os grupos
conscientizem-se dessa competição velada. Nessa miscelânea de corporativismos e
financeirização da educação médica, organizada pelos países de economia mais
forte que a nossa, a lição que devemos considerar é a da distinção cultural,
histórica e econômica, para que não fiquemos parecidos com macacos de circo que
mimetizam gestos humanos e depois aplaudem a si mesmos sem entender exatamente
por que. Resta-nos ainda o consolo de uma viagem ampliada de férias para apreciar
na cultura e no comportamento o que os distingue de nós.
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